Quinhentos anos da Pintura Brasileira
Publicações digitais são ainda uma novidade
[em 1999], muito raras para os assuntos de arte e
cultura tanto no exterior como no Brasil. Entretanto, não há dúvida que
constituem uma verdadeira revolução no universo do conhecimento e da
pesquisa, pois suas características — seja em termos de volume, eficiência
ou custo — superam em muito as dos tradicionais processos para consolidação
de fontes de informação. Nesse novo mundo, em geral ficamos de imediato
impressionados com a vasta escala quantitativa que a tecnologia utilizada
em tais publicações pode nos proporcionar: um simples compact disc comporta
640 megabytes de informação, o que significa algo como 150.000 páginas
impressas ou 2.000 imagens de boa qualidade — o que representa muito mais
do que o volume de uns dez caríssimos livros de arte...
Entretanto, nessa época de pioneirismo que vivemos, a
prática mostra que critérios de mensuração quantativa valem tanto quanto
valiam nas velhas fontes convencionais de informação, ou seja, muito pouco.
Portais na internet, CDs de museus e enciclopédias interativas apresentam
ainda enormes problemas de qualidade em relação ao conteúdo, o que talvez
seja mesmo inevitável como decorrência das escalas gigantescas: afinal, o
árduo e meticuloso trabalho intelectual de processamento de informações
culturais é um atributo exclusivamente humano, sempre dependente do rigor e
da erudição, e suas dificuldades intrínsecas aumentam em proporção igual ou
superior ao crescimento do volume a ser processado.
O CD-ROM Quinhentos Anos da Pintura Brasileira, de
José Roberto Teixeira Leite, reúne o melhor dos dois mundos. Baseado no
Dicionário Crítico da Pintura no Brasil, do mesmo autor, seu conteúdo
corresponde exatamente a tudo aquilo que se pode desejar de uma excelente
obra de referência sobre arte. A estrutura original da publicação foi
tornada ainda mais abrangente, com correspondente ampliação do conteúdo,
sem perder suas características originais de profundidade e método. Pelo
contrário, nessa versão digital torna-se ainda mais visível o quanto o
livro publicado em 1988 possuía de solidez e qualidade superlativas em
relação às publicações do gênero. E agora, dotado de recursos de acesso
poderosos como só os computadores pessoais podem proporcionar, revela-se
inquestionavelmente como a mais importante fonte de informação de que
dispomos para conhecimento e estudo da pintura no Brasil e de sua evolução
histórica.
A obra está dividida em sete seções interdependentes. A
primeira delas é um amplo ensaio inédito, A Pintura Brasileira, que
em dezessete capítulos compreende o período que se estende do século XVI (Antes
do Descobrimento) até os últimos anos do século XX (A Geração
Finissecular), justificando assim o título do CD; segue-se a seção
Biografias, que inclui mais de 1.300 verbetes (com a respectiva
indicação de referências bibliográficas) sobre os mais importantes pintores
que construíram nossa história da arte, formando assim mais do que uma
simples listagem ilimitada de nomes como nos dicionários de outros autores,
pois este é um dicionário crítico; Documentos Históricos são 47
verbetes nos quais estão descritos ou comentados mapas, álbuns e livros
raros, ou seja, fontes exponenciais desde o século XVII — André Thevet,
Jean Cousin, Gaspar van Baerle e Zacharias Wagener, até o século XIX —
Johann Jacob Steinmann, Príncipe de Wied-Neuwied, Barão de Planitz,
Jean-Baptiste Debret, Johann Moritz Rugendas e Jean Léon Pallière, entre
outros; e em Museus encontramos meia centena de entradas registrando
origem e características relevantes de nossas principais instituições
culturais especializadas.
A seção Obras Primas é sobretudo importante como
instrumento de educação, pois pela primeira vez se destaca o significado de
um conjunto de mais de 150 obras de arte — reproduzidas em imagens
coloridas e individualmente analisadas em textos de impecável visão crítica
e historiográfica — que ocupam posição de extraordinária relevância em
nosso patrimônio cultural, mas que infelizmente até o presente são muito
pouco conhecidas pelo público em geral; o mesmo pode ser dito da seção
dedicada às Técnicas, com setenta verbetes (Afresco, Assinatura,
Catalogue Raisonné, Restauração, Falsificação, Monotipia, Plágio, etc) que
constituem um repositório de valor inestimável para estudantes e leigos; e,
por fim, um conjunto de quase 300 verbetes reunidos sob o título Pintura
e Sociedade no Brasil, articulados em seis subseções cujos temas ainda
não haviam simultaneamente sido objeto de tratamento tão cuidadoso e
adequado: Academias e Associações; Colecionadores e Coleções;
Críticos e Historiadores; Gêneros e Estilos; Eventos;
e Grupos e Movimentos.
Além dos quase 2.000 verbetes que a compõem, a obra inclui
cerca de 1.000 reproduções de pinturas e obras de arte, quase todas a
cores. Só isso já a tornaria uma fonte de consulta indispensável e
insubstituível para todos os interessados pela pintura no Brasil, pois não
existe qualquer outra fonte iconográfica pública — livro, base de dados, ou
website — tão extensa e completa a esse respeito. E, nesse particular, não
podemos esquecer que sucessivos governos brasileiros (federal, estaduais e
municipais) e dezenas de órgãos públicos de educação e cultura
(ministérios, museus, universidades e agências governamentais), mantidos
pela sociedade através das mais elevadas taxas e impostos do planeta,
jamais tiveram interesse ou capacidade para nos proporcionar tais recursos
de conhecimento! E se agora essa gravíssima lacuna foi preenchida, isso
devemos ao empenho do autor e dos editores de Quinhentos Anos da Pintura
Brasileira.
No que se refere a tecnologia, a publicação foi elaborada
através do sistema HTML Help, um padrão aberto da Microsoft Corporation,
que assegura perfeita compatibilidade [em 1999] com a imensa maioria dos computadores
pessoais existentes e com veiculação através da Internet. A interface do
programa é clara, simples e objetiva; além da estrutura do conteúdo através
de índices hierárquicos, que permite acesso imediato às diversas seções e
capítulos mencionados, incluindo recurso a inúmeras referências cruzadas (hyperlinks),
proporciona também a criação de índices personalizados (bookmarks)
e, sobretudo, a capacidade de localização instantânea de qualquer nome,
palavra ou conjunto de palavras. Ou seja, poderosos recursos que tornam o
processo de consulta e pesquisa tão rápido e fácil quanto agradável.
É, enfim, uma obra absolutamente indispensável para
profissionais e estudantes no campo da arte brasileira, substituindo com
vantagem uma centenas de livros raros, muitos deles inacessíveis em
bibliotecas públicas, aos quais, até a publicação do presente CD-ROM,
teríamos de recorrer em busca de informações essenciais para o conhecimento
de nossa cultura artística. E isso devemos ao mérito de José Roberto
Teixeira Leite, cuja vontade incansável e enorme capacidade de trabalho bem
refletem o respeito e o amor verdadeiros que sempre tem dedicado à pintura
no Brasil, ao longo de sua vida profissional.
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Enciclopédia interativa de autoria do historiador e
crítico de arte JOSÉ ROBERTO TEIXEIRA LEITE.
CD-ROM com publicação digital produzido e distribuído por Log On
Informática, sob direção editorial de Raul Luís Mendes Silva, Rio de
Janeiro RJ, 1999.
TEXTO DA RESENHA:
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