Carlos Roberto Maciel Levy

Crítico e Historiador de arte

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Veja nos Museus: Rodolfo Amoedo

"Esse sentimento vivo da natureza, essa rápida maneira de sentir a forma, a densidade e a cor dos corpos manifesta-se com maior habilidade no Estudo de mulher. A mulher, nua, sobre um divã de seda escura, é vista de costas; tem um dos braços caído para o chão, indolente, preguiçoso, segurando uma ventarola chinesa. O conjunto é todo claro; as paredes, os panos, a almofada em que a figura pousa a doce cabeça, redonda e penteada, o tapete felpudo que cobre o chão, são de uma tonalidade cor de opala e, numas e noutras nuanças, de um tom mais carregado. O modelado do corpo da mulher atinge à perfeição. Sente-se através dessa carne, carne que é carne, carne que tem sangue, a disposição dos músculos. E para qualificar o poder de realidade que tem este quadro, a estranha vida que anima esta obra-prima, apenas encontro como forma clara e única a frase dita por uma senhora diante dessa figura: Que mulher sem-vergonha!

Este quadro que, na exposição de 1884 foi o mais bem pintado, o que resumia mais conhecimento de modelado e maior savoir faire, isto é, espontaneidade, segurança e elegância de toque, mereceu da congregação acadêmica uma censura por... ser imoral!

Oh! a pudica congregação quer uma arte ad usum Delphini! Que a moral seja respeitada com auxílio da folha de videira, senhores artistas; assim o manda e ordena a sempre pura, a sempre imaculada, a sempre virgem e muito ilustre e sábia congregação acadêmica".

 

RODOLFO AMOEDO (1857-1941)
Estudo de mulher, 1884, óleo sobre tela, 150,5 x 200,0 cm
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro



TEXTO:
Luiz Gonzaga Duque Estrada, A Arte Brasileira: Pintura e Escultura, Rio de Janeiro, H. Lombaerts Editor, 1888, p.162-163

IMAGEM:
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