Carlos Roberto Maciel Levy

Crítico e Historiador de arte

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Fotografia de Italo Campofiorito, 1986

Homenagens

Hilda Eisenlohr Campofiorito 1901-1997
CENTENÁRIO DE NASCIMENTO EM 2001

Dos anos durante os quais tenho acompanhado de perto as atividades da artista, eis que surge, enfim, a oportunidade de deixar registrados, ainda que de modo bastante resumido, a admiração e o fascínio que me provocam a vida e a arte desta linda mulher de olhos azuis e de produção cristalina que é Hilda Campofiorito.

Em nada me constrange a circunstancial diferença de nosso tempo, mas, ao contrário, reafirma a aproximação que naturalmente mantenho com pessoas que, como ela, têm feito da dedicação sistemática e prazerosa ao seu trabalho a razão de sua lúcida existência e de sua valiosa atuação artística.

Neste caso, por exemplo, creio que a opção pela pintura apenas seguiu o curso inevitável de uma verdadeira vocação. E nem poderia ter sido diferente, tamanha a relação de intimidade e espontaneidade que encontramos em suas obras. Quem possui o privilégio, como eu, de compartilhar alguns momentos do universo particular da artista, pode compreender com extrema clareza que a pintura de Hilda Campofiorito é exatamente o reflexo de sua personalidade: autêntica, calorosa, sensível e despojada.

De seu permanente contato com a natureza ela retira, na maior parte das vezes, os temas que deseja representar. Em muitas de suas naturezas-mortas pode-se identificar singelos objetos ou formas vegetais que recolhe em seus passeios matinais pela praia de Icaraí, além de conchas, raízes e até mesmo os peixes. As flores, presentes com exuberância em diversas telas desta exposição, definem com precisão o talento e a sensibilidade definitivos da pintora.

Com gosto e empenho, dedica-se á paisagem, exclusivamente como a percebe o seu olhar atento e o seu espírito doce. Na França, na Itália, em Goiás ou no interior do Estado do Rio, os horizontes são amplos e a interpretação das formas se articula em perfeita harmonia com a determinação das cores e seus matizes. E é sobretudo na questão do colorido e nos efeitos luminosos que alcança a partir da interrelação de tons, que Hilda Campofiorito se distingue e se consagra.

Se Édson Motta a julgava "...exímia colorista, da estirpe de um Guignard", fato é que a cor, na obra da artista, transcende qualquer tipo de análise comparativa e, a bem da verdade, possui um caráter lírico tão próprio e peculiar que podemos considerá-la como a síntese essencial de sua plena liberdade de expressão.

Também encontramos nesta mostra alguns trabalhos que fixam impressões retiradas do cotidiano social de nosso tempo: através deles, sejam lavouras ou intermináveis filas de feijão ou do INPS, a pintora mantém-se permanentemente vinculada à realidade que a cerca e da qual faz parte.

Tendo tido oportunidade de vivenciar inúmeros momentos de transformação e evolução na arte brasileira deste século XX, Hilda Campofiorito permaneceu fiel ao seu único e maior compromisso, o de exercer com total desembaraço e sinceridade a sua pintura. E graças á sua tenacidade e paixão pelo trabalho, pode-se verificar e apreciar, nesta mostra, a efetiva contribuição que vem emprestando ao panorama artístico brasileiro contemporâneo.

Maria Elizabete Santos Peixoto
Texto originalmente publicado como apresentação no catálogo da exposição realizada em Acervo Galeria de Arte, Rio de Janeiro, dezembro de 1985-janeiro de 1986, p.5-6.



TEXTO
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BIBLIOGRAFIA

PONTUAL, Roberto. Dicionário das Artes Plásticas no Brasil, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1969

CAVALCANTI, Carlos [coordenação]. Dicionário Brasileiro de Artistas, Instituto Nacional do Livro, Rio de Janeiro, 1973

LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário Crítico da Pintura no Brasil, Artlivre, Rio de Janeiro, 1988

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