Carlos Roberto Maciel Levy

Crítico e Historiador de arte

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Fotografia reproduzida de: Laudelino de Oliveira Freire. Um século de pintura, Tipografia Röhe, 1916, p.303

Homenagens

Décio Rodrigues Vilares 1851-1931
SESQUICENTENÁRIO DE NASCIMENTO EM 2001

Nascido e falecido no Rio de Janeiro. Matriculou-se aos 17 anos na Academia Imperial de Belas Artes, e em 1872 seguiu para a Europa, onde permaneceu cerca de 10 anos, estudando em Paris com Paul Cabanel e em Florença com Pedro Américo. Em 1874 expôs no Salon de Paris seu quadro Paolo e Francesca, no qual revelava a mesma veia para o dramático e o grandiloqüente de seu idolatrado mestre Pedro Américo; mas, à parte a pintura histórica, em pequenas manchas e esboços foi que deu provas de uma sensibilidade mais viva e moderna, principalmente quando tratava a figura feminina, que sempre lhe saiu elegante e sensível.

A dicotomia do seu temperamento não passou desapercebida a Gonzaga Duque, o qual observa que "...deixa-se atrofiar por uma imperiosa alucinação do chique, à guisa dos pintores do século XVIII, em França, ou vai colher na Bíblia os assuntos de suas obras". O grande crítico considerava-o, então, mais pintor que propriamente artista, e lhe realçava a "habilidade no fazer", censurando-lhe o ter abandonado sua primeira maneira, de temática religiosa, pela segunda, que lhe parecia inclusive frívola:

"Décio Vilares foi um discípulo fanático pelo mestre, Pedro Américo, e compôs os dois São Jerônimos; depois a arte francesa seduziu-o, não a grande arte, mas a arte chique, empomadada, anêmica; e tem produzido, após a Fugida para o Egito, retratos de cold-cream e veloutine.

Mas são esses retratos de
cold-cream e veloutine que hoje parecem garantir a posteridade do artista, já que foi exatamente neles, e não nas pinturas religiosas, que Décio deixou de lado o convencionalismo por uma arte mais liberta e viva. Nessas figuras femininas, desenhadas com segurança e elegância, de belo modelado, resolvidas num cromatismo sensível, o artista alcança talvez o ponto mais elevado de sua produção. A cor, principalmente, torna-se livre e ousada, como se Décio, esquecendo-se das lições de Cabanel e Pedro Américo, tentasse atingir uma atmosfera luminosa que trabalhos anteriores não permitiam antever. Intensidade poética e maciez de toque são qualidades inerentes a tais obras, nas quais se revela dos nossos maiores, mais delicados intérpretes da alma feminina".

Pintor de grandes recursos, Décio Vilares foi ainda escultor de méritos, e por algum tempo praticou a caricatura. Como escultor, deixou em Porto Alegre a estátua de Júlio de Castilhos, além de ter feito bustos, como os de Colombo, Tiradentes, José Bonifácio, Deodoro e Benjamin Constant. Como caricaturista, parece ter colaborado na Comédia Social em 1870-1871, ao lado de Pedro Américo e Aurélio de Figueiredo, além de ter publicado trabalhos, em 1886, em Rata-plan.

Católico fervoroso no princípio de sua carreira, Décio Vilares converteu-se em Paris ao dogma positivista, pintando então obras como Queda do Cristianismo e Virgem da Humanidade, destinados a adornar o Templo da Religião da Humanidade na capital francesa. Foi republicano histórico e por ocasião da proclamação da República coube-lhe modificar o pavilhão nacional, acrescentando-lhe o lema positivista "Ordem e Progresso" e a constelação do Cruzeiro do Sul.

O Museu Nacional de Belas Artes, por ocasião do centenário do seu nascimento, em 1951, dedicou-lhe uma retrospectiva. Esse museu, aliás, conserva o núcleo principal de sua produção, a qual em boa parte se perdeu porque em 1931, logo depois do falecimento do pintor, sua viúva, num gesto impensado, ateou fogo ao seu ateliê. Entre as obras conservadas destacam-se Retrato de Senhora, de 1889, e a já citada Paolo e Francesca, da qual disse Eugéne Veron (o autor da célebre Estética) que conseguira ser original, após Scheffer e Ingres.

José Roberto Teixeira Leite
Extraído do livro Dicionário crítico da pintura no Brasil, ArtLivre, Rio de Janeiro, 1988 (versão digital em CD-ROM, Log On Informática, Rio de Janeiro, 1999).



TEXTO
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BIBLIOGRAFIA

ESTRADA, Luiz Gonzaga Duque. Arte Brasileira, Rio de Janeiro, 1888, p.163-169

VILARES, Leonardo Odilon. "Décio Vilares", Revista do Instituto Brasileiro de História da Arte, n° 1, Rio de Janeiro, 1954

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