Carlos Roberto Maciel Levy

Crítico e Historiador de arte

  E-mail

Conteúdo  

Alegoria a Nossa Senhora da Conceição, circa 1818
óleo sobre tela 127,0 x 92,0 cm
sem assinatura e sem data
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro RJ

Homenagens

Manuel Dias de Oliveira 1763-1837
250 ANOS DE NASCIMENTO EM 2013

Dito O Brasiliense ou O Romano. Pintor e professor. A respeito de seus primeiros estudos artísticos disse Quirino Campofiorito, no artigo Artes plásticas e ensino artístico no Rio de Janeiro: século XIX (Arquivos da Escola Nacional de Belas Artes, nº XI, 1965): "Jovem, teve o apoio de um bondoso comerciante português que lhe propiciou a ida a Portugal. Verifica-se que já demonstrava singular talento para a pintura, pois, tendo falecido seu primeiro benfeitor, na cidade do Porto, onde estava o jovem fluminense, logo encontrou quem lhe custeasse a estada em Lisboa, dando prosseguimento mais intenso ao preparo artístico".

Aperfeiçoou-se em seguida com Battoni, na Academia de San Lucca, de Roma (advindo-lhe dai o outro apelido pelo qual ficou conhecido: O Romano). Nomeado regente da Aula Pública de Desenho e Figura, quando esta foi criada no Rio de Janeiro por carta régia de novembro de 1800, ali, não admitindo, "...em suas aulas o ensino pela estampa", "...impôs o trabalho diante do modelo vivo", como comentou ainda Quirino Campofiorito. Entre seus alunos cabe destacar Francisco Pedro do Amaral.

A respeito dos métodos observados nessas aulas, Adolfo Morales de Los Rios Filho, em O ensino artístico: subsídios para a sua história (1942), transcreveu trechos de comentários de um missivista que se assinava O Carioca Constitucional B. F. G. [Basílio Ferreira Goulart], publicados no Spectador Brasileiro, do Rio de Janeiro, em 12 de agosto de 1826: "A seguir, comenta o que viu numa sessão de modelo vivo professada por Brasiliense. O modelo era um homem branco, não muito jovem, descarnado, mesmo malfeito. Os alunos e o professor olhavam para o triste indivíduo, mas não o reproduziam sobre o papel, onde apareciam belas figuras, que nada tinham com a imagem viva, mas sim com a imaginação".

E Gonzaga Duque já dissera, em A arte brasileira (1888): "Era um bom pintor de frutos, flores e natureza-morta, e habilíssimo em trabalhos decorativos. A maior parte das decorações para a recepção d'el-rei dom João VI foi trabalhada por ele. O seu desenho não tem grande elegância e correção, porém o colorido foi-lhe vibrante e claro. Com a chegada dos artistas franceses, da colônia Lebreton, a sua notoriedade sofreu seriamente. Também já estava cansado, velho e cheio de filhos. Desistiu da profissão. Retirou-se para a cidade de Campos, onde abriu um colégio, de primeiras letras".

Sua tela Nossa Senhora da Conceição, pertencente ao MNBA, foi por este último incluída nas mostras de Pintura Religiosa (1943) e Retrospectiva da Pintura no Brasil (1948), figurando também na Exposição Retrospectiva de Arte Sacra Brasileira (RJ, 1955). Teodoro Braga reuniu diversas referências bibliográficas a seu respeito em Artistas pintores no Brasil (1942), as quais pode-se acrescentar as de José Maria dos Reis Júnior em A pintura no Brasil (1944), e de Mário Barata, no estudo Raízes e aspectos da história do ensino artístico no Brasil (Arquivos da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, nº XII, 1966). Há ainda obras de sua autoria na Biblioteca Nacional e no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, ambos no Rio de Janeiro.

Roberto Pontual
Extraído do livro Dicionário das artes plásticas no Brasil, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1969, p.86



TEXTO
Copyright © sucessores de Roberto Pontual, 1969-2023

BIBLIOGRAFIA

Manuel de Araújo Porto Alegre. Memória sobre a antiga escola fluminense de pintura, em Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, volume 3, Rio de Janeiro, 1841, p.555

Manuel Duarte Moreira de Azevedo. O Rio de Janeiro, volume 1, 1877, p.202

Alcebíades Furtado. Manuel Dias de Oliveira: o Brasiliense, em Anais da Biblioteca Nacional, volume 18, Rio de Janeiro, 1896, p.445-451

Antônio da Cunha Barbosa. Aspecto da arte brasileira colonial, em Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo 61, parte I, Rio de Janeiro, 1898, p.107

Afonso de Escragnolle Taunay. A missão artística de 1816, em Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo 74, parte I, Rio de Janeiro, 1911, p.112

Ernesto da Cunha Araújo Viana. Das artes plásticas no Brasil em geral e no Rio de Janeiro em particular, em Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo 77, volume 2, Rio de Janeiro, 1915, p.534 e 546

Argeu de Segadas Viana Guimarães. História das artes plásticas no Brasil, em Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo especial, volume 9, Rio de Janeiro, 1922, p.436

Aníbal de Matos. Arte colonial brasileira, Biblioteca Mineira de Cultura, Belo Horizonte, 1936, p.49-50

Francisco Marques dos Santos. Artistas do Rio de Janeiro colonial, em Estudos Brasileiros, ano I, nº 3, Rio de Janeiro, maio-dezembro de 1938, p.5-36

Nair Batista. Pintores do Rio de Janeiro colonial, em Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nº 3, Rio de Janeiro, 1939, p.117

Luiz Gastão de Escragnolle Dória. Manuel Dias o Romano, em Revista da Semana, ano 10, número 40, Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1939, p.18

José Roberto Teixeira Leite. Dicionário crítico da pintura no Brasil, ArtLivre, Rio de Janeiro, 1988, p.87

Termos e condições Copyright © 1995-2023 Carlos Roberto Maciel Levy. Todos os direitos reservados.