Carlos Roberto Maciel Levy

Crítico e Historiador de arte

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Fotografia reproduzida de: Laudelino de Oliveira Freire. Um século de pintura, Tipografia Röhe, 1916, p.177

Homenagens

Pedro José Pinto Peres 1850-1923
SESQUICENTENÁRIO DE NASCIMENTO EM 2000

Nascido em Lisboa, Portugal, e falecido no Rio de Janeiro. Chegado à capital de Brasil aos cinco anos de idade, nela realizaria toda a sua formação artística, primeiro no Liceu de Artes e Ofícios e após 1868 na Academia Imperial de Belas Artes, como aluno, entre outros, de Agostinho José da Mota, Chaves Pinheiro e principalmente Vítor Meireles, que iria influenciá-lo fundamente.

O nome de Pedro Peres começou a se tornar famoso na Exposição Geral de 1879, com A Elevação da Cruz, uma pintura que causou funda sensação e carrearia para seu jovem autor uma medalha de ouro e a comenda de Oficial da Ordem da Rosa. A composição, o desenho, o colorido e a atmosfera geral da Elevação evocam tão de perto a Primeira Missa no Brasil, de Vítor Meireles, que Gonzaga Duque não teve dúvidas em chamá-la de "prólogo" da célebre pintura, julgando-a, com severidade decerto excessiva: "Essa obra é de um principante. Nada tem de notável, senão a qualidade de ser prova de aplicação ao estudo".

No mesmo ano de 1879 foi Pedro Peres para a França, permanecendo até 1881 em Paris. Ao regressar, deu início a uma prestigiosa carreira de pintor de história, gênero e retrato, atividade que repartiria até o fim da vida com a de professor no Liceu de Artes e Ofícios, na Academia (onde lhe coube substituir Vítor Meireles) e na Escola Normal.

É de 1882 A Última Corrida de Touros em Salva terra, baseada na narrativa de Rabelo da Silva. Encomendado pelo Clube de Regatas Guanabarense para comemorar o centenário da morte de Pombal, o quadro desenvolve-se em dois planos: no fundo, vê-se o velho Marquês de Marialva, que acabou de vingar a morte do jovem filho, abatido momentos antes na arena; no primeiro, o marquês de Pombal aproxima-se do Rei, para lhe anunciar friamente o rompimento de relações com a Espanha, indiferente ao drama humano que tem junto a si. A composição é bem cuidada e o desenho correto, mas algumas figuras são duras e despojadas de vida - bonecos, e não seres de carne e osso.

Em 1884, na XXVI Exposição Geral, Pedro Peres mostra seis retratos, Lição de bordados e Fuga para o Egito - ao lado, aliás, de outra Fuga para o Egito, a de Almeida Júnior. E provável que boa parte da crítica adversa recebida pela obra de Pedro Peres tenha-lhe advindo de uma comparação desfavorável com a obra-prima do pintor paulista. A figura de São José, particularmente, motívou sarcasmos à crítica que o surpreendeu "...com ares de folgazão da Penha, refestelado na areia", "...menos um tipo de judeu atormentado pelo cansaço da fuga do que um boneco bem posado", etc.; no entanto, a composição é de grande originalidade, e o esquema cromático impõe-se pela sobriedade, resolvendo-se em três campos bem delimitados de vermelho, cinza e azul.

Não foi em pinturas históricas, como A Princesa Isabel Entrega Cartas de Liberdade, executada em 1885, ou em painéis decorativos como O Brasil Animando o Trabalho, a Indústria, o Comércio, a Navegação e a Instrução, porém em pinturas de gênero, como Travessuras que Pedro Peres dá o melhor de si próprio. Soberbamente pintada, essa obra mostra uma criança que se diverte em "melhorar" um retrato recém-concluído após ter penetrado no ateliê de um pintor, que adormeceu.

Pedro Peres não chegou a fazer individuais; mas participou das Exposições Gerais desde 1879 - e ainda na de 1910 expunha dois óleos, Passeio impedido e Previsão dolorosa. Sua obra é extensa e de valor muito desigual, abundando os retratos circunstanciais, para irmandades, associações e entidades de classe.

José Roberto Teixeira Leite
Extraído do livro Dicionário crítico da pintura no Brasil, ArtLivre, Rio de Janeiro, 1988, p.403-404 (versão digital em CD-ROM, Log On Informática, Rio de Janeiro, 1999).



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