Auto-retrato, 1904
Coleção particular, São Paulo SP
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Homenagens
Karl Ernst Papf 1833-1910 CENTENÁRIO DE MORTE EM 2010
Nascido em Dresden, a 17 de março de 1833, Karl Ernst Papf era filho de uma família de mineiros saxões, possivelmente procedentes da cidade de Freiberg. Com cerca de dezessete anos, freqüentava a academia de pintura de sua cidade natal, época em que obteve grande sucesso com uma de suas obras, denominada A Saudação do Mineiro (Glück Auf!). Dois anos mais tarde já se tem notícia de um retrato pintado pelo jovem artista, então com dezenove anos de idade, ao qual denominou Lembranças Paternas. Ainda na Alemanha, casou-se com Sofia Schaedlich, nascendo no ano seguinte (1863) seu primeiro filho, e único deste casamento, Jorge Henrique Papf.
Papf e sua família partiram de Hamburgo, em setembro de 1867, a bordo do navio Oneida, com destino ao Brasil. Nesta mesma embarcação, encontrava-se o fotógrafo alemão Albert Henschel, com quem Papf iniciaria seu trabalho na área de fotografia. Passando por Lisboa e Tenerife, tendo o pintor realizado pelo menos uma paisagem neste último local, e depois por Cabo Verde, aportaram finalmente em Recife, onde Papf se instalou, iniciando seu trabalho na recém-inaugurada firma Photographia Alemã. É bastante provável que dentre as razões da viagem de Papf para o Brasil, a mais plausível seja a de que ele tenha vindo como contratado do fotógrafo Albert Henschel, destinado a cumprir uma precisa finalidade: a de fornecer às atividades de fotografia da firma Henschel & Cia um estatuto comercial que a nova tecnologia ainda não possuía na América do Sul.
Após trabalhar em Pernambuco, Papf foi transferido para a filial da Photographia Alemã em Salvador, instalada também em 1867. Durante sua estada no Nordeste, que durou cerca de dez anos, Ernst Papf realizou, de acordo com anotações do próprio punho em diário, diversos retratos por encomenda de Henschel.
Transferiu-se para o Rio de Janeiro em meados de 1877, pintando inúmeros retratos, inclusive da Família Imperial, sobressaindo os da princesa Isabel, do conde d'Eu e do príncipe do Grão Pará. No ano seguinte, o pintor já fixara residência em Niterói, na região de São Domingos, onde pintou sua paisagem mais importante, a Praia do Cavalão. O local fixado nesta tela é um trecho da encosta da atual Estrada Fróes, que liga Icaraí a São Francisco pelo litoral, na cidade fluminense. Ainda em Niterói, neste mesmo ano, falece sua esposa Sofia, casando-se o artista pela segunda vez, com sua sobrinha Helene Schaedlich. Um ano mais tarde, participou da Exposição Geral da Academia Imperial das Belas Artes, sendo desta época sua tela Vista da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Passando a residir em Petrópolis a partir de 1880, Papf manteve ainda vínculo com a firma de Henschel no Rio de Janeiro. Em 1881, apresentou trabalhos na Exposição de História do Brasil, no Rio de Janeiro, e no ano seguinte, expôs treze pinturas, dentre retratos, paisagens, marinhas e naturezas mortas, na famosa Exposição da Sociedade Propagadora das Belas Artes, realizada no Imperial Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Continuou a trabalhar com fotografia, mantendo ateliê na cidade imperial, à Rua Barão do Amazonas. Data de 1884, ano em que expõe na Glace Élégante, no Rio de Janeiro, a abertura de sua própria firma, a Photographia Papf, sediada em Petrópolis.
Na cidade imperial, adquiriu em 1886 a casa que até hoje pertence à família, à Rua Costa Gama (atual Rua Santos Dumont), onde dedicou-se também ao cultivo de orquídeas, freqüentemente presentes em suas pinturas. Neste mesmo ano participou da Primeira Exposição Industrial e Artística de Petrópolis, organizada pelo professor Henrique Kopke, no Palácio de Cristal, recebendo medalha de ouro na categoria de pintura a óleo. Sem abandonar a fotografia, Papf prosseguiu a execução de diversas telas de representação paisagística, dentre elas Vista do Rio de Janeiro tomada da Serra de Petrópolis, participando, em 1897, da Exposição Geral na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.
Dos cinco filhos nascidos do segundo casamento, nenhum dedicou-se às atividades artísticas. Apenas Jorge Henrique, filho único do primeiro casamento, companheiro na prática da fotografia, sucedeu ao pai, assumindo a direção da Photographia Papf, quando o pintor, em 1899, transferiu-se para São Paulo com família, fixando residência na fazenda das Palmeiras.
Papf manteve ateliê na capital paulista e estava sempre em contato com Petrópolis, através da pintura de retratos encomendados por sua firma, agora dirigida por seu filho Jorge Henrique. Seis anos antes de sua morte, pintou um excelente auto-retrato, participando nesta mesma época da Exposição de Belas Artes do Clube de Petrópolis. Por encomenda da Câmara Municipal desta cidade, executou a restauração de um retrato de dom Pedro II, de autoria de Joaquim da Rocha Fragoso.
Karl Ernst Papf faleceu em sua residência paulista em 1910, aos setenta e sete anos de idade. Dos filhos do segundo casamento, que o acompanharam quando seguiu para São Paulo, existem ainda descendentes em Moji das Cruzes. Em Petrópolis e no Rio de Janeiro, encontram-se também descendentes de Jorge Henrique Papf.
Maria Elizabete Santos Peixoto Extraído do livro Pintores alemães no Brasil durante o século XIX, Edições Pinakotheke, Rio de Janeiro, 1989, p.141-154.
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TEXTO Copyright © Maria Elizabete Santos Peixoto, 1989-2023
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