Exposições Gerais da Academia Imperial e da Escola Nacional de Belas Artes 1840-1884
PREFÁCIO, por José Roberto Teixeira Leite
"Conhecendo Carlos Roberto Maciel Levy, como conheço, há muitos anos, desde quando,
extremamente jovem, a todos surpreendia com a vivacidade de sua
inteligência e a rapidez do seu raciocínio, posso testemunhar sua incomum
capacidade de trabalho, e a seriedade e o respeito com que encara História
da Arte no Brasil, à qual tem dedicado o melhor dos seus esforços, e que
nele tem sem dúvida um de seus mais destacados e originais representantes.
Seu campo favorito de atuação é a pintura oitocentista
brasileira, sobre a qual tem publicado livros de inquestionável valor, como
por exemplo os consagrados ao Grupo Grimm e aos pintores Parreiras e
Castagneto, os dois últimos incluindo bem elaborados catalogues raisonnés
da produção pictórica. Estudou-os, diga-se desde logo, não com olhos
saudosistas de antiquário, mas como historiador que é ao mesmo tempo
crítico de arte lucidamente comprometido com o seu próprio tempo, e que
sabe muito bem que para as obras do espírito não existe passado, só
presente.
Característica fundamental do seu trabalho é que ele não
se satisfaz em simplesmente repetir conceitos de outros, às vezes
equivocados ou preconceituosos, antes prefere conferi-los, o que faz
recorrendo às próprias fontes, em penosas mas compensadoras pesquisas de
arquivo e ao contato direto com as obras de arte elas próprias. Tem assim
corrigido muita barbaridade que nos ficou do passado, e revelado uma série
de dados valiosos, capazes de lançar novas luzes sobre a arte e os artistas
nacionais do século XIX.
Outra peculiaridade de Carlos Roberto Maciel Levy, essa
dizendo respeito ao seu fazer de pesquisador e de historiador, é o fato de
ter sido ele certamente o primeiro a, entre todos nós, encarar o computador
como instrumento indispensável de trabalho: há anos, efetivamente, vejo-o
às voltas com a parafernália dos micros, pcs, softwares, impressoras e
bancos de dados, e o resultado desse interesse precoce é encontrar-se ele
na vanguarda de nossos historiadores de arte, alguns (entre os quais
encabuladíssimo me incluo) não tendo sequer superado o estágio rudimentar
da máquina-de-escrever, e outros cheios de saudade, ainda, da pena de pato.
Todos esses fatores conjugados foram responsáveis pelo
surgimento do presente trabalho — um levantamento precioso das 26
exposições gerais de Belas Artes efetuadas durante o período monárquico, de
1840 a 1884, pela Academia Imperial das Belas Artes, com referências a
exatas 3.315 obras de nada menos de 516 artistas! A transcrição dos
catálogos, quase todos de difícil, e alguns de impossível localização pelo
leitor comum, a relação dos artistas com premiações obtidas, o arrolamento
das fontes principais utilizadas, um índice de artistas e outro onomástico
completam o volume, que é uma homenagem do autor e do editor ao
sesquicentenário, de outro modo esquecido, da primeira Exposição Geral de
Belas Artes, realizada em 1840.
Um belo livro, enfim, desde já indispensável a todo aquele
que desejar seriamente estudar a arte brasileira do século XIX, e o papel
que nela desempenhou a Academia Imperial das Belas Artes".
Novembro de 1990
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Transcrito do livro publicado por Edições Pinakotheke, Rio de
Janeiro, 1990, p.11-12.
TEXTO:
Copyright © José Roberto Teixeira Leite, 1990-2015.
Todos os direitos reservados.
IMAGEM:
Ferdinand Krumholz, Retrato do imperador dom Pedro II, 1849, coleção
particular (localização desconhecida).
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