Antônio Diogo da Silva Parreiras nasceu em Niterói, em 20 de janeiro de 1860, filho de Jacinto Antônio Diogo Parreiras e Maria Rosa da Silva Parreiras. Realizou seus primeiros estudos, por volta de 1872, no Liceu Tintori. Continuou-os no Colégio Briggs, que abandonaria em 1874 com o falecimento do pai e a necessidade de prover recursos para a subsistência da família. Após trabalhar no comércio foi aprovado, em 1880, em concurso público para professor substituto em Mangaratiba, tendo solicitado inscrição, dois anos antes, para o curso noturno de desenho da Academia Imperial das Belas Artes. Menos de dois meses permaneceu como professor, exercendo em 1881 a função de escriturário da Estrada de Ferro Cantagalo, em Nova Friburgo. Em 25 de janeiro de 1883 foi admitido como aluno na Academia, tornando-se efetivo no ano seguinte, quando trabalhou com o cenógrafo Frederico de Barros e executou a pintura do pano de boca do Teatro Santa Teresa, em Niterói. Ainda em 1884, em julho, abandonou a Academia e continuou a residir em Niterói (Rua de Santa Rosa 27).
Em 1885 expôs em sua residência e na sede da Fotografia Moderna, também apresentando trabalhos na Casa De Wilde, esta no Rio de Janeiro. No ano seguinte excursionou à serra da Estrela, expondo na Glace Élégante em maio. Realizou nova exposição em sua residência no ano de 1887; expôs ainda no Grêmio de Letras e Artes e excursionou a Cabo Frio. Em 1888 apresentou trabalhos na Casa Insley Pacheco, seguindo em março para a Europa, onde se estabeleceu em Veneza e freqüentou a Academia local. Da Europa enviou trabalhos que em março de 1889 foram apresentados na Casa Narciso Napoleão.
Retornou ao Brasil em janeiro de 1890, participando da Exposição Geral da Escola Nacional de Belas Artes. Expôs ainda no Ateliê Moderno, em junho, e na Glace Élégante, em agosto, sendo nomeado professor de paisagem da Escola Nacional de Belas Artes em novembro. Em 1891 abandonou a cátedra de paisagem da Escola e lecionou desenho e pintura no Ateneu Fluminense, em Niterói, neste mesmo ano realizando excursão a Friburgo. A partir desta época Parreiras viajou com grande freqüência para São Paulo — apresentando as primeiras mostras individuais de arte vistas naquela cidade — e as exposições ocorreram com intensidade, tendo executado em 1896 uma de suas obras mais importantes, a paisagem Sertanejas.
Iniciando nos primeiros anos do século XX uma etapa de sua obra que seria caracterizada pela pintura histórica, atendendo a inúmeras encomendas oficiais, viajou por diversas vezes à França, mantendo ateliê permanente em Paris. O artista desviou-se, portanto, de seu original e exclusivo interesse pelo paisagismo, de modo bastante radical. Se na primeira metade da década inicial do novo século ele havia demonstrado preocupação com a pintura animalista, realizando obras plenas de uma emoção romântica em tudo mais autêntica e importante do que as tentativas análogas que entre nós se faziam neste gênero, jamais deixara de dosar com eficiente equilíbrio a participação do paisagismo como fator indispensável e até mesmo prioritário no contexto de suas obras. Com a pintura histórica, as discutíveis questões da veracidade documental e do desenho de anatomia passaram a excluir qualquer hipótese de continuidade de desenvolvimento do enfoque da paisagem, que ocupara em caráter absoluto suas atividades artísticas até então.
A partir de 1909 um novo gênero despertou o interesse de Parreiras: a pintura de nus, através da qual obteve a tão almejada participação constante nos salões realizados em Paris. Até fins da década de 1920 sua obra manteve quase inalteradas as características que em verdade foram responsáveis pela consagração de uma notoriedade sem igual na arte brasileira, em termos de opinião pública. Sucederam-se as viagens à Europa, as estadas em Paris, as encomendas governamentais de pintura histórica e os prêmios em profusão.
Só quase ao início da década de 1930 o artista retomou o paisagismo com a dedicação e a persistência que haviam marcado sua atuação em fins do século anterior. E novamente produziu pinturas magníficas, perfeitamente identificadas com o original espírito criador que motivara seu primeiro interesse pela arte, em uma inequívoca demonstração da potencialidade estética contida nos fundamentos essenciais do ensino de Johann Georg Grimm (1846-1887). Antônio Parreiras publicou suas memórias em 1926, tendo atingido o mais amplo sucesso como pintor. Em 1932 e em 1936 — já doente e bastante debilitado — realizou as últimas excursões em busca de motivos paisagísticos a serem interpretados ao ar livre, viajando ao distrito de Barão de Javari, perto de Miguel Pereira. Em 1937, no dia 17 de outubro, faleceu em sua residência de Niterói.
Neste ano de 2010 completa-se século e meio do nascimento de Antônio Parreiras, artista que criou em nossa pintura um tipo de interesse pela paisagem brasileira que jamais existira anteriormente; que revelou ao Brasil imagens de uma história de rebeldia e insubmissão que o país mesmo hoje insiste em desconhecer; e que ao longo de sua carreira demonstrou que era perfeitamente possível ater-se sempre ao profissionalismo, no melhor sentido contemporâneo do termo. Escolheu na vida, sendo brasileiro, um caminho dificílimo para qualquer pessoa e particularmente para um artista de sua época, contrariando as tendências aparentemente irrevogáveis das normas sociais e políticas de então, que combateu e invariavelmente venceu.
Jamais foi um conformista. Recusou a eventual facilidade das limitadas profissões burguesas que lhe quiseram impingir, lutando para ser exclusivamente um pintor e atingiu seu objetivo; foi pobre, sem ostentação de pobreza, e tornou-se rico, sem ostentação de riqueza; pleiteou auxílio do governo monárquico para estudar no exterior, tal qual obtinham dezenas de outros artistas, e, não sendo atendido, aperfeiçoou-se na Europa com recursos obtidos por meio de seus próprios trabalhos; fez dezenas de exposições, foi reconhecido no exterior e escreveu, polemizou e defendeu suas idéias até os 77 anos de idade. Como ele próprio dizia, gastou com tintas e pincéis o que havia ganho com tintas e pincéis, trabalhando para poder trabalhar.
CARLOS ROBERTO MACIEL LEVY
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